Inovação na Advocacia

  Com faturamento de R$ 1,9 bilhão por ano e 10 mil funcionários, um dos mais relevantes parques tecnológicos urbanos do Brasil, o Porto Digital, instalado no centro histórico do Recife/PE acendeu a mira de oportunidades no meio jurídico. Em uma área que reúne centros globais e de fortalecimento de startups, a chamada “Nova Economia” teria mercado e demanda para escritórios de advocacia?

“Criamos a Célula de Atendimento a Startup, voltada para consultoria jurídica desse verdadeiro ecossistema. Unimos uma equipe multidisciplinar de advogados, e com uma nova proposta de comunicação (direta, via whatsApp e vídeos) e até na proposta de honorários diferenciada na forma e valor, fomos repensar o escritório para nossa inserção”. A visão de Fernanda Martorelli, advogada, diretora executiva e sócia da Martorelli Advogados, retrata o escritório full service com 35 anos de atuação como case de referência em inovação no Brasil.

Vanguarda

Com a entrada da Inteligência Artificial na Advocacia voltada para operações internas, a busca de ações para operações com clientes iria resultar no primeiro escritório de advocacia a utilizar a IA do Google. “Escolhemos a área Trabalhista. Hoje, nosso IA ´Bob` lê as peças dos processos, apresenta os dados e sugere ações como acordos com relação a valor e identifica a causa raiz do problema trabalhista do cliente no Judiciário”.

Temas como Inteligência Artificial, a Advocacia 4.0, e o negócio jurídico na era digital podem posicionar um escritório como pioneiros e na vanguarda. Com a aplicação direta na Advocacia, como a inovação pode provocar os advogados a seguirem a perenidade do escritório?

David Rogers com o livro “Transformação digital: Repensando o seu negócio para a era digital”, propõe os cinco domínios da Transformação Digital: clientes, competição, dados, inovação e valor. Em analogia com o escritório, Fernanda pontua dicas para o “negócio jurídico”:

Cliente

Em tempos de despersonalização, a relação com o cliente, antes direta e pessoal, muitas vezes prioriza agora a grande corporação. “Mas a opinião do cliente está ainda mais exigente e dividida/compartilhada com muitas conexões via redes sociais. A proximidade deve ser respeitosa, mas o cliente sempre será a fonte para mudanças de posturas”, explica Fernanda.

O escritório utiliza a Net Promoter Score (NPS) como um método/métrica criado para medir o grau de satisfação e retenção de clientes. A pesquisa de satisfação atribui notas aos serviços do escritório, divididas por ramos como Tributário, Consumidor, entre outras. “Os resultados trouxeram novas estratégias, percebemos o cliente e demos feedback. Com isso, seguimos o lema de parceiro do negócio do cliente”.

Competição

A concorrência hoje precisa ser vista com outro olhar. Novas empresas estão surgindo com o intuito de facilitar a vida dos advogados e dos departamentos jurídicos. Os escritórios que abraçarem as novas tecnologias poderão sair na frente. “As lawtechs não irão substituir o trabalho do advogado, mas trazem ferramentas valiosas para a coleta manual de dados, entre outras ações”.

De escritórios, já é comum a união entre especialidades diferentes para o melhor atendimento do cliente ou até para montar uma câmara de arbitragem, por exemplo. “Estamos vendo uma mudança de mentalidade”.

Dados

A coleta de dados e informação. “A própria Lei Geral de Proteção de Dados que entrará em vigor no próximo ano traz oportunidades para muitos escritórios. Os dados são o novo petróleo”. Para o planejamento estratégico interno, a advogada explica a alimentação constante dos indicadores, a exemplo do sistema de controle processual.

Inovação

Para a advocacia de vanguarda, Fernanda aponta protótipos e testes com os clientes para o alcance da inovação.

Valor

Como produzir valor? Fernanda aponta novos produtos e aliar o estudo de leis e projetos de leis, além da análise sobre posicionamentos atuais e em discussão do Judiciário.

Premissas nas Pessoas

Dos elementos para a Inovação apontadas por David Rogers, a advogada ressalta como premissas as ações realmente voltadas para as pessoas, passando pela Cultura Organizacional até a Governança Corporativa.

“Desde 2017 trabalhamos pela descentralização da gestão. Dos 3 diretores, dois foram estagiários no escritório, além de montarmos uma diretoria voltada para a carreira do advogado. Não queremos advogados empregados, mas futuros sócios do escritório”, ao completar que os sócios de serviços também podem atuar na gestão do escritório, para que possam também alcançar a sociedade patrimonial.

As ações ainda englobam comitês de Sustentabilidade, Compliance e Ética, além de Diversidade e Inclusão, a exemplo de promover maior participação de negros no mercado jurídico. “A troca de culturas e de raças também é inovação”, finaliza.

(créditos: Alessandro Manfredini – Artesania Comunicação Jurídica)

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